Bárbara Hartz

4 de jul de 20204 min

Blockchainização, uma estratégia para salvar a Amazônia

Inúmeros alertas chegam ao Brasil sobre a necessidade de proteger o seu rico meio ambiente para garantir investimentos estrangeiros e exportações. No foco dessa atenção está a Amazônia, na qual as queimadas em junho foram as maiores para o mês em 13 anos, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgados pela imprensa esta semana.

As queimadas sem controle continuam elevando os índices de desmatamento na Amazônia. Hoje, a floresta derrubada, incluindo a vegetação, soma mais de 700.000 Km², área equivalente a quase todo o território do Chile (Pan-Amazônia). Pastos para o gado, agricultura, garimpo e extração de madeira ilegal estão entre os principais motivadores do desmatamento.

A justificativa de que o desmatamento ocorre em todo mundo não se aplica à Amazônia. Lá, é especialmente crítico por ser uma floresta tropical única, a mais biodiversa do planeta, com milhões de espécies, e a maior em pé no mundo. Sua biodiversidade e concentração de riquezas minerais, bem como a capacidade de proteger as nascentes dos rios, garantindo água inclusive para agricultura, podem pautar a economia e, portanto, a ambição de países estrangeiros. Mas a sua capacidade de estabilização do clima certamente começa a despertar interesse mundialmente.

Cada vez mais, reduz-se o número de negacionistas das mudanças climáticas, que multiplicam os eventos extremos ao redor do mundo. O aquecimento global, que está na sua origem, passou a compor os riscos fundamentais que o capital financeiro precisa considerar para fechar as suas contas. A prova é que os 10 maiores fundos de investimento já colocam entre as suas condições de financiamento a defesa do meio ambiente de alguma forma. Mais explicitamente, o maior deles, o Blackrock destaca a sustentabilidade como um “novo padrão de investimento”.

“Como Larry Fink escreveu em sua carta de 2020 aos CEOs, os riscos de investimento apresentados pelas alterações climáticas deverão acelerar uma realocação significativa do capital, o que, por sua vez, terá um impacto profundo na precificação do risco e dos ativos em todo o mundo”, explica o site da companhia na sua carta aos clientes.

Ainda em junho, 30 instituições financeiras, na maioria escandinavas, ameaçaram retirar seus recursos do País, se o governo não trabalhar para deter o desmatamento na Amazônia. Essas instituições, têm sob gestão US$ 4,1 trilhões. Em coro, o presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, defendeu a necessidade de a sociedade “se mover contra os incêndios na Amazônia”, na abertura do CIAB, tradicional feira de tecnologia bancária, promovida pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), conforme relatou o Broadcast.

Não é, portanto, a soberania nacional que está em jogo. Mas algo muito maior, do qual somos guardiões no mundo interconectado em que vivemos e do qual podemos nos beneficiar. Se o governo não responde adequadamente à tarefa que lhes é atribuída, cabe a sociedade, às empresas e aos empreendedores de visão pressionar pela governança desse imenso bioma e de tudo que o envolve.

Desde o ano passado, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, um movimento multissetorial, composto por mais de 200 participantes, entre empresas líderes em diversos segmentos e entidades, intensificou seus trabalhos contra o desmatamento da Amazônia, lançando campanhas como “Amazônia Possível” e “Seja legal com a Amazônia”. O movimento entende que a maior parte do desmatamento se deve a atividades ilegais. Nesse foco, estuda a rastreabilidade da cadeia de produção da carne bovina, “um pré-requisito para que o país possa competir no mercado internacional sem o ônus do desmatamento” e que contribui para a sustentabilidade do agronegócio.

A proveniência legal ou de qualquer outra origem dos alimentos em geral tem sido uma demanda crescente do consumidor, principalmente o europeu, que vai além da confiabilidade sanitária. A capacidade de rastrear o supply chain de vegetais e produtos animais com segurança e transparência, entre outras vantagens para o agronegócio, encontra-se atualmente nas potencialidades das aplicações da tecnologia blockchain. Há exemplos que as atestam. Entre eles, o caso do líder global do varejo Walmart que, depois de concluir com sucesso dois projetos-piloto de rastreamento com blockchain da fazenda à mesa de mangas e carne de porco, com foco na segurança alimentar, passou a rastrear as cadeias de mais de 25 produtos de 5 fornecedores diferentes.

Outro que confirma a utilidade da blockchain para a sustentabilidade em geral é o documento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE ou, do inglês, OECD), intitulado Blockchain Technologies as a Digital Enabler for Sustainable Infrastructure”. Nele, a organização afirma:

“A transição para um futuro de baixo carbono requer uma reavaliação visionária da infraestrutura, sistemas e serviços, desde a interação com os consumidores até o planejamento, compras, financiamento, construção e operações. Adotar novas tecnologias que permitam reduções drásticas nas emissões de gases de efeito estufa (GEE) será um elemento crucial para o sucesso da transição. As tecnologias de ledger distribuído emergente (DLT), como a blockchain, têm o potencial para melhorar os processos e sistemas atuais, agindo como um facilitador digital em toda a cadeia de valor da infraestrutura.”

O desmatamento é um dos principais fatores que mais contribuem para as emissões de gases de efeito estufa do Brasil, intensificando o aquecimento global, segundo ambientalistas. Com a progressiva blockchainização e uma governança adequada, os negócios – sejam eles da agricultura, da carne ou dos bioprodutos - poderão conviver em harmonia com a mata e a sociedade, preservando o capital natural do nosso país e contribuindo para a desejada economia planetária de baixo carbono.

O resto é política, advocacy e enquadramento nas leis.

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A autora é jornalista e empreendedora da HARTZ - New Thinking / Comunidade da Inovação

Foto de Luis Deltreehd by Pixabay

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