Desafio a todo o planeta, a crise do clima, que provoca inundações, secas e calor extremo, é uma maior ameaça a países em desenvolvimento, incapazes de, sozinhos, enfrentá-la de maneira eficiente. Motivo: a necessidade de muito dinheiro para obter a descarbonização e a transição para fontes de energia limpas. Este foi um dos temas principais do evento Climate Week NYC, realizado entre os dias 20 e 26 de setembro em Nova Iorque. Em seu debate, constatou-se a ausência de projetos de investimento de larga escala nos países em desenvolvimento, o que torna necessária uma coordenação global para realizá-los. Para isso, porém, esses países também precisam adotar uma estrutura organizada para operar essa transformação e medidas para reduzir a crise do clima.
Uma das opções para enfrentar o problema poderiam ser as chamadas “finanças verdes”, adotadas por empresas ligadas a ESG (Enviromental, Social and Governance), que somente em 2018 investiram nelas US$ 30 trilhões, segundo dados da Global Sustainable Investment Alliance. Mas esse dinheirão se dirigiu aos países mais ricos, deixando de fora aqueles em desenvolvimento porque obtiveram pontuações baixas em uma ou mais áreas de avaliação. Ou seja, para superar as alterações climáticas será necessário mudar o foco de investimento em infraestrutura de energia limpa e poder ajudar de fato os países mais pobres.
E isso tem de ser feito rapidamente. Segundo pesquisa da Organização Mundial da Saúde, até o final desta década a crise climática pode aumentar o número de mortes em 250 mil por ano, sobretudo entre o grupo mais vulnerável de mulheres e crianças, por causa de má nutrição, malária, diarreia e estresse por calor.
Esse aumento em frequência e intensidade da crise foi confirmado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que também defende maior participação de países ricos para ajudar financeiramente os menos desenvolvidos. No início deste século, já haviam se comprometido a investir 100 bilhões de dólares anuais para atacar a crise do clima até 2020 nos países pobres. Além de não cumprir esse compromisso, 80% do que investiram foram na forma de empréstimos e não de concessões.
Resultado: hoje, organizações que representam 90 países admitem que seus planos de prevenção de crise de clima foram engolidos por desastres climáticos que se intensificam cada vez mais. E, segundo o IPCC, há 90% de certeza que esse aumento é causado pela ação do homem. É um problema surgido desde a Revolução Industrial, quando se passou a emitir grandes quantidades de gases de efeito estufa (GEE), sobretudo o dióxido de carbono.
Combater a crise do clima causada pelo aquecimento global exigirá uma série de medidas, que vão desde a conservação de áreas naturais e reflorestamento até o uso de energias renováveis (solar, eólica e biomassa, por exemplo) e biocombustíveis, além de investir na redução do consumo de energia e reciclagem de materiais, entre outras medidas.
Nobel para alertas climáticos
Nesse contexto atual, não por acaso o Prêmio Nobel de Física deste ano destinou-se aos cientistas Sykuro Manabe, japonês naturalizado americano, o alemão Klaus Hasselman e o italiano Giorgio Parisi, especializados em sistemas físicos complexos, que, entre outras coisas, alertam o planeta sobre o aquecimento global.
Os estudos de Manabe, da Universidade de Princeton, revelam que o aumento de concentração de dióxido de carbono na atmosfera provoca o aumento de temperatura da Terra, enquanto os métodos desenvolvidos por Hasselman, do Instituto Max Planck de Meteorologia, de Hamburgo, constatam que esse aumento é resultado das emissões humanas de dióxido de carbono. Já Parisi, professor na Universidade Sapienza, em Roma, especialista no campo teórico da Física, desenvolve teorias mais complexas, descrevendo macroscopicamente como interações microscópicas entre átomos funcionam, bem difíceis de entender por causa de sua aleatoriedade e desordem.
Foto: Marcus Friedrich by Pixabay
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