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O protagonismo das organizações locais no combate à covid-19



Bairros mais carentes, com grande concentração de pessoas, tornam-se mais vulneráveis ao coronavírus, certo? Nem sempre: recente estudo do Instituto Pólis constatou que a comunidade de Paraisópolis, localizada na zona sul de São Paulo, vizinha do imponente bairro do Morumbi, abrigando mais de 100 mil habitantes em apenas 10 km2 (ou seja, maior que muitas cidades brasileiras), apresentou uma taxa de mortalidade por covid-19 de 21,7 pessoas por 100 mil habitantes, abaixo da média total paulistana de 56,2 e de outros bairros vulneráveis como Pari (127), Brás (105,9) e Brasilândia (78).


Como conseguiram? Em primeiro lugar, graças à sua ativa associação comunitária de moradores, que desde março implementa uma série de ações para suprir as lacunas provocadas pelo omisso poder público. Conforme explica o Instituto Pólis, o modelo adotado une “iniciativas de atenção básica à saúde e ações voltadas para garantir a segurança alimentar e outras despesas essenciais, com ampla testagem, busca ativa de novos casos e controle dos familiares”.


Atualmente fechadas por causa da pandemia, suas duas escolas públicas continuam ativas: viraram abrigos temporários para moradores com sintomas leves da pandemia, o que evita a transmissão para outros familiares. Médicos e enfermeiros se mudaram para casas alugadas pela associação, que também contratou três ambulâncias. Nomearam-se 50 “presidentes de rua” para monitorar cada pedaço da comunidade e informar os profissionais de saúde em caso de necessidade. E 240 moradores foram treinados como socorristas.

Variações pelo mundo

Outro exemplo de contenção da pandemia vem, quem diria, da sofrida Itália, em sua pequena vila de Vo ‘Euganeo, na Província de Pádua, com cerca de 3 mil moradores. Mas ali há uma explicação: sua liderança conseguiu erradicar a doença já no início de fevereiro, instalando um centro de diagnóstico para fazer exames em quem quisesse. Constataram-se 89 infectados com o vírus, que imediatamente se isolaram em suas casas por 14 dias, embora a maioria manifestasse poucos sintomas ou nenhum. Resultado: a epidemia não se espalhou.


Se nos casos brasileiro e italiano a contenção da covid-19 oferece explicações lógicas e louváveis, ao redor do planeta temos outros exemplos de baixa contaminação sem justificativas mais claras. Como na Tailândia, por exemplo, país de 70 milhões de habitantes que até a metade de julho havia registrado apenas 58 mortes. E há sete semanas não havia nenhum caso de transmissão comunitária. O mais provável seria afirmar que o sistema imunológico dos tailandeses apresenta componentes genéticos diferentes que protegeriam a população, embora seu Ministério da Saúde exalte o fato de que seus cidadãos não dão as mãos em cumprimentos, o que explicaria a baixa transmissão. Será?

As cidades do (novo) futuro

A tragédia do coronavírus obrigará a adoção de novas práticas econômicas e estratégia de segurança para proteger a população global de novas ondas de contaminação. Estudo financiado pela Bloomberg Philanthropies sugere algumas dessas práticas como, por exemplo, aumentar a circulação de ônibus em faixas exclusivas com menos passageiros, incentivar o uso de bicicletas para evitar maior risco de contágio, ampliar a largura das calçadas para pedestres, criar áreas abertas e protegidas para restaurantes e permitir o funcionamento de escolas e igrejas ao ar livre, o que garantiria maior segurança às aulas e à programação em geral.


E, para incentivar essas novas práticas, o estudo garante que seu custo é baixo e de fácil instalação, como barreiras, balizas, meio-fio de borracha e marcações feitas com tinta. Caso não sejam adotadas, os autores alertam que as cidades não só sofrerão aumento dos casos de covid-19, como também se entupirão de veículos particulares, já que seus habitantes terão receio de usar transportes coletivos.

Embora ninguém saiba dizer como será o futuro, uma coisa é certa: cidades devem ser repensadas, para garantir um futuro seguro e sustentável.


Foto: Comunidade de Paraisópolis, bairro do Morumbi, São Paulo / Por Jorge Maruta - Jornal da USP


Paulo Eduardo Nogueira é jornalista formado Master em Jornalismo, autor do livro "Paulo Francis - Polemista Profissional" e editor do blog da Comunidade da Inovação

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