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A poluição plástica que chega ao estômago

Atualizado: 10 de ago. de 2023


O combate à poluição causada pelos plásticos representa um dos maiores desafios para ativistas, gestores públicos e cidadãos interessados na sustentabilidade. “Atualmente, o plástico entope nossos aterros sanitários, vaza para o oceano e é transformado em fumaça tóxica, o que o torna uma das maiores ameaças ao planeta”, ressalta um comunicado do Programa para o Meio Ambiente da ONU (PNUMA) que escolheu o combate à poluição plástica para marcar o 50° aniversário do dia dedicado à causa (5 de junho).


Anualmente, produz-se mais de 400 milhões de toneladas de plástico, de um terço à metade de produtos usados apenas uma vez. Desse total, menos de 10% é reciclado, segundo dados do programa. Os números e o tamanho do problema vêm chamando a atenção dos países que já assinaram vários acordos internacionais para reduzir a poluição plástica. Mas o primeiro acordo global destinado especificamente ao problema foi assinado por mais de 100 países em 2 de março de 2022.


Considerado o mais significativo pacto ambiental desde o Acordo de Paris, assinado em 2015, o acordo define balizas para elaboração de um tratado vinculante até 2024, devendo conceituar o plástico oficialmente como ameaça ao meio ambiente e ter efeito em empresas e economias de todo o mundo.


Desde a assinatura do acordo, ocorreram duas reuniões do Comitê Intergovernamental de Negociação (INC) para desenvolver um instrumento juridicamente vinculativo sobre a poluição plástica. Uma no Uruguai (28/11 a 02/12/2022) e outra recentemente, em Paris (29/05 a 02/06/2023). A última com 1 mil delegados de 175 países e mais de 1,5 mil cientistas e representantes da sociedade civil e da indústria. As propostas incluem a proibição de certos tipos de plástico, fortalecer o tratamento de resíduos e melhorar a reciclagem.


Feito de combustíveis fósseis, o plástico contribui para agravar a crise climática e, se continuarmos no caminho atual, a sua produção triplicará até 2060. Antes disso, até 2040, poderá gerar 19% das emissões globais de gases de efeito estuda, afirma o relatório do encontro em Paris.


O Brasil defende o acordo internacional para a redução da poluição plástica e, como outras nações, preocupa-se por um dos seus efeitos mais nocivos. “Plásticos são a maior, mais prejudicial e mais persistente parcela do lixo do mar, representando pelo menos 85% do total de lixo no mar”, destaca o site Pollution to Solution do PNUMA (ver mais sobre o MCTI).


O documento online alerta que as 11 milhões de toneladas de plásticos que chegam ao oceano anualmente triplicarão nos próximos 20 anos, se não houver uma ação urgente.


O material plástico descartado atinge todas as partes do oceano e afeta 88% das espécies marinhas, segundo informe da WWF. As espécies marinhas e costeiras são afetadas pela poluição plástica por ingestão, emaranhamento e outros perigos. Existem 171 trilhões de partículas de plástico nos oceanos, revela o Greenpeace.


Como os plásticos não se biodegradam (decomposição natural sem gerar resíduos prejudiciais ao meio ambiente), decompõem-se com o tempo em pedaços cada vez menores conhecidos como microplásticos e nanoplásticos, que medem 5 milímetros e poucos nanômetros. Acabam, assim, no sistema digestivo de tartarugas, peixes aves e mamíferos marinhos.


Mas não só a biodiversidade sofre prejuízos. Absorvidos pela ingestão de alimentos, como os peixes, e pela água ou até mesmo inalando microplásticos pelo ar, eles acabam em nossos pulmões, fígado, baços e rins. Um estudo recente, já os encontrou até em placentas de recém-nascidos, conforme documenta o PNUMA.


Os cientistas também acreditam que algumas das substâncias químicas comuns encontradas nos plásticos, como o bisfenol A, os ftalatos e os bifenilos policlorados (PCB), podem infiltrar-se no corpo. Estas substâncias químicas têm sido associadas a perturbações endócrinas, perturbações do desenvolvimento, anomalias reprodutivas e câncer.


Somados, ainda, aos danos à saúde humana e à economia (U$ 500 bilhões a U$ 2.500 bilhões por ano em serviços, fora perdas relacionadas a turismo e navegação), temos efeitos alarmantes nos ecossistemas. O oceano é o maior reservatório do planeta, capturado em todos os seus elementos – manguezais, gramas marinhas, corais e pântanos salgados. “Quanto mais danos fazemos às nossas áreas oceânicas e costeiras, mais difícil é para estes ecossistemas tato para compensar como permanecer resistentes às mudanças climáticas”, informa a organização internacional¹.


Mas a entidade não considera que tudo esteja perdido, caso países e empresas façam uma mudança profunda em suas políticas e práticas de mercado.Uma mudança para uma economia circular pode reduzir o volume de plásticos que entram nos oceanos em mais de 80% até 2040; reduzir a produção de plástico virgem em 55%; economizar US$ 70 bilhões para os governos até 2040; reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 25%; e criar 700.000 empregos adicionais – principalmente no sul global”, resume o site do PNUMA dedicado ao 5 de junho de 2023².


Investir na economia circular ou criar novos materiais na tentativa de substituir os plásticos é o objetivo de uma série de startups. Em uma curadoria do Grupo de Trabalho de Inovação da ABRAPS³ encontram-se entre várias outras: Nexplas (materiais sustentáveis e de alta performance), Befer e Growpack (inovações na biodiverdidade), Sustentaí (inteligência artificial para medir engajamento com a sustentabilidade), Byfusion, Trashin, Floritech (gestão de resíduos), Greenwins, GreenMining e CircularBrain (tecnologia para economia circular), Gjenge Makers (transforma plástico em tijolos) e Já Fui Mandioca (embalagens biodegradáveis).


NOTAS:


¹Mais detalhes e uma análise sobre lixo marinho e poluição plástica podem ser encontrados em Pollution To Solution bem como um PDF para download.

³ Curadoria do GT Inovação da ABRAPS por Bárbara Hartz e Isabella Cirello - Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável


IMAGEM: Bilyjan by Pixabay



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